sexta-feira, junho 14, 2013

[Carta ao Presidente do PT em resposta a mensagem da mala direta do PT, que não sei como conseguiu meu endereço de email, sobre os avanços da campanha pela Reforma Política]

Caros Rui Falcão e Alberto Cantalice,

Não sou militante "orgânico" do PT, mas por falta de melhor opção,  ao jogar o jogo da ordem democrática,  costumo votar no PT nas eleições majoritárias. Embora me considere socialista, não acho que nenhuma das propostas vanguardistas de partido que temos por aí no Brasil contemplem minhas convicções revolucionárias. Exatamente por isso tenho apoiado os governos do Lula e da Dilma, que mesmo sem romper com a ordem capitalista, têm tido um impacto na superação de desigualdades históricas.

Dito isso, é meu dever reconhecer que infelizmente o Partido dos Trabalhadores demonstrou nas últimas semanas uma incapacidade aguda de perceber que a história está se movimentando para um lado e o partido para o outro. Eu poderia mencionar os graves equívocos com relação à questão indígena, mas a incapacidade do atual governo federal em lidar com essa questão social não resultou em declarações de figuras públicas ligadas ao partido. Sei, contudo, que posso estar enganado, já que a Ministra Gleisi Hoffman tem sido notória em gafes desse tipo também, mas me parece que nesse caso ela tem feito tudo muito bem escondido em reuniões com a bancada ruralista.

Considero desastrosas do ponto de vista da história desse partido as declarações do atual prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad, e do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, caracterizando como violentos os movimentos populares de reivindicação por transporte publico mais barato na cidade de São Paulo. Eu espero isso na boca de um Geraldo Alckmin ou de Um Fernando Henrique Cardoso. Eu espero isso de qualquer um dos inúmeros filhotes do Arena, do DEM ao PSD. Me acostumei, aliás, a escutar isso vindo do novo grande aliado do PT no governo federal, Gilberto Kassab.

O capital político que este partido tem não pode e não deve ser queimado como se fosse um palito de fósforo. Mas é exatamente isso que foi feito pelo ministro da justiça e pelo prefeito de São Paulo ao endossarem anteontem, ontem e hoje de manhã o discurso da manutenção da ordem a qualquer custo do governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin. Em primeiro lugar porque é um endosso ou hipócrita ou cínico. É de conhecimento de qualquer pessoa minimamente esclarecida que o maior problema da gestão do transporte público no Brasil é que este foi apropriado por um conjunto de empresas fantasmas de atuação nacional, que os altos valores de passagem são resultado do poder que esse cartel mafioso tem sobre os políticos, de qualquer partido, por causa de sua atuação como financiadores de campanha. Quando o prefeito de São Paulo diz que as tarifas estão abaixo da inflação, ele me chama de idiota, porque há estudos que mostram o quanto a força desse cartel fez as tarifas subirem por anos acima da inflação, principalmente na gestão de nosso mais novo aliado, o Kassab. Quando o Ministro da Justiça se propõe a oferecer apoio de inteligência da Polícia Federal ao Estado de São Paulo para investigar manifestantes legítimos, em lugar de usar essa mesma Polícia Federal para investigar e autuar os comandantes da Máfia do Transporte, ele me chama de imbecil. Em segundo lugar porque depõe contra a história desse partido, como um partido que surgiu da necessidade de inúmeros movimentos populares e sindicais de se organizar e engajar na luta partidária no início dos anos 80. Faltou bom senso aos dois? Ou foram os acordos da eleição passada e os da futura que falaram mais alto a Haddad e Cardozo? Foi mesmo necessário esperar pelo resultado da ação da Polícia Militar sobre os manifestantes chegasse à desproporção que chegou para que esses dois importantes representantes do partido entendessem o erro de suas declarações? Entenderam? Foi mesmo necessário se esconder quando essa polícia educada para calar a democracia arrebentou jornalistas que estavam lá incialmente, pasmem, para publicar a versão da PM? Parece que só agora, no entardecer dessa sexta feira dia 14 de junho os dois estão percebendo o erro que cometeram de apoiar o governador Geraldo Alckmin na repressão a um movimento reivindicatório legítimo.

Não posso considerar isso um erro de pessoas inocentes. Quem conhece a Polícia Militar brasileira, mas especialmente a paulista, sabe que essa corporação não é treinada para servir e proteger. Ela é treinada para reprimir, desde os anos do regime militar. E nada, mas nada mudou em sua prática. Nada mudou na sua formação. O que o Ministro da Justiça e o prefeito de São Paulo pensavam que iria acontecer? Foi um erro derivado da escolha ideológica e política pelos financiadores das campanhas. Foi um erro ligado à escolha política pela mentalidade da Ordem, muito ao gosto dos interesses eleitorais no Estado de São Paulo, mas refratária às manifestações políticas populares. Quando assim erram, figuras oriundas do PT aceitam e reafirmam a acusação de que no Brasil não há mais direita nem esquerda. Incomodo-me menos com figuras da direita falando esse tipo de bobagem, mas me incomodo muito com figura da esquerda transformando essa bobagem em realidade por meio de suas ações. Esquerda e direita continuam existindo, e no que diz respeito à questão do transporte público a direita está ligada ao cartel capitalista que extorque a população brasileira há anos. O PT, por meio de seu atual ministro da justiça e do prefeito da cidade de São Paulo, está desse lado.

Eu estou do outro.

Uiran Gebara da Silva
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