terça-feira, abril 11, 2006

R de revanchinha

Gostar de V de vingança como um filme, eu gostei. Pronto. Não é só um ótimo filme de aventura e ação, digno da sessão da tarde, mas tem úm explícito conteúdo político, direcionado não apenas ao atual presidente dos Estados Unidos da América, mas também à noção atual de Estado democrático. A história do filme, apesar de ser construida em torno da existência de um Estado totalitário, o faz com situações no cotidiano das pessoas, muito, mas muito parecidas com o nosso mundo democrático-burguês. Tirando os toques de recolher, entre as situações que as pessoas comuns do filme vivem e o que nós vivemos, há muito pouco.
Que uma obra cinematográfica de ação, que ainda bem, teve um baixo orçamento, direcionada a um grande público fale positivamente da ação terrorista, da subversão, da transformação coletiva da sociedade por meio da insurreição, isso já é muito para o moedor de criatividade chamado Hollywood. Só o primeiro Matrix, junto com outro filme também fundamental, aliás, do mesmo ano 1999, Clube da Luta, conseguiram algo asim antes. E são estes dois filmes que colocam os senões de V.
Estes dois últimos, são revolucionários na linguagem cinematográfica, na narrativa, no uso das imagens e dos efeitos especiais. Vão além, do diálogo e da história linear e criaram novas maneiras de contar histórias no cinema. Mais que isso, desafiam o espectador em seu próprio lugar de espectador. São obras de arte que propõem o mundo à ação, há um quê de Brecht para as massas neles. São o que Benjamin queria dizer. Quem assiste, sai do cinema e contesta o cinema, contesta o mundo, contesta a realidade pasteurizada, com gosto de gordurta vegetal hidrogenada onde vive.
Infelizmente, V de Vingança não faz isso. Isso o torna um mau filme? Não. Só não aproveita suficientemente o potencial que a História em quadrinhos permitia. Faria isso se fosse estritamente fiel à HQ? Não.
Mesmo porque quem conhece a história da história em quadrinhos sabe que o salto anarquista só acontece Após Alan Moore escrever Monstro do Pântano e Watchmen. Antes disso era um Conde de Montecristo, inspirado numa obscura figura inglesa do século dezessete. A história de uma vingnaça com contexto político totalitário. Há um intervalo de anos entre o coemeço da história, na Inglaterra, e a sua conlusão já na DC Comix.
Mas a partir daí, todos os elementos do que já tinha sido escrito antes, são reinterpretados pelos autores, convertendo a história de vingança no mais poderoso libelo anarquista já feito. Nenhum teórico do anarquismo conseguiu construir uma visão, um vislmubre de um mundo livre e igual do futuro como David Loyd e Alan Moore. Mas é a linguagem da História em Quadrinhos. E como Moore fez até o limite do possível em Watchmen, em V provocou e tentou romper as fronteiras da arte na conclusão de V.
Para o filme estar à altura da HQ, deveria fazer o mesmo com a sétima arte. Não o faz. Apenas em uma cena.
A cena do dominó, onde contingência e controle, liberdade e previsão se encontram. Quando não se sabe mais o que é o que, quem controla quem, o efeito em cadeia irrompe e anuncia o fim do regime totalitário. É a grande cena do filme, a única à altura da HQ.
Mas que, mesmo não sendo genial, me conforta saber que este filme vai passar nas sessões da tarde do futuro, me conforta. Primeiro, porque a Veja não gostou, segundo, porque aí, pessoas podem querer ler a HQ, e aí o bicho Pega!
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