terça-feira, abril 07, 2009

Eu fui mais ameaça ao Delfim que a Dilma

O Nosso Atentado

Delfim Neto. Eu confesso: iríamos fazer uma ação contra o grande cortador de bolos do Regime militar. Era um dia ensolarado, seco. Nos reunimos na Ágora, lembro de ter sido avisado pelo Lambão da reunião. Estavam lá: Baleia, Lambão, Onça, Hellmans, Mourinho e eu. Se tinha mais gente, não recordo, não importa.

Tudo tinha de ser feito muito rapidamente. Delfim ia dar uma palestra na Faculdade de Economia e Administração. Tínhamos duas horas para preparar tudo. A proposta era atacá-lo rapidamente e em público para deixar claro o que o povo brasileiro pensava do sujeito. Onça foi quem conseguiu arranjar a munição, quase em cima da hora da palestra ele apareceu com o pacote.

Penetrar no anfiteatro, manter dois na porta, um de cada lado, garantindo a rota de fuga, enquanto os outros se posicionavam em meio à multidão, protegendo o pacote até a hora H, bem em frente ao palco, bem abaixo do sacana. Fui um dos que ficou na porta. Eu e o Hellmans. Baleia era o cara, Baleia assumiu para si a responsabilidade de atirar no Delfim. Onça, Lambão e Mourinho dariam a cobertura e protegeriam Baleia se algo desse errado.

Lembrando hoje, foi tudo muito tenso, as coisas difusas. Entramos no Anfiteatro lotado, a multidão esperando que os olhos de sabujo e a boca de buldogue do Delfim se pronunciassem sobre o momento econômico do país.
Havia muitas pessoas formadas em economia que o viam com bons olhos. Que respeitavam seu conhecimento, sua posição. Havia muitas pessoas carregando faixas e bandeiras, tentando esfregar na cara dele sua cumplicidade com o regime assassino e autoritário. Delfim, no entanto, já não era mais alguém ligado diretamente ao Estado.

Em seu discurso apresentou algumas críticas sobre os rumos recentes da economia brasileira em relação ao contexto mundial. Mas tudo isto pouco importava.
Estávamos todos na expectativa, prontos para cumprir nossa parte seguindo a ação de Baleia. O povo brasileiro queria redenção, pagamento, retribuição. A retórica e a ciência de Delfim. Sua voz empapada e arrastada, as palavras que eram paridas de seus lábios molengas não impediriam a nação de se regozijar na doce vingança nas mãos de Baleia.

Baleia se levantou, puxando o saco que envolvia a arma do crime e atirou o bolo de morango e glacê que passou 5 centímetros da cabeça de Delfim Neto. Cinco centímetros da cabeça de Delfim Neto. Fracasso. Fracassamos! Sem redenção, sem retribuição. Não seria hoje que o Brasil veria o carrasco submerso em vermelho e rosa açucarados. Os três no meio da multidão correram, Enquanto Hellmans e eu segurávamos a porta; corremos também.

Fugimos.
Perdemos.

Agora Delfim é novamente amigo do presidente e provavelmente nem se lembra do bolo que não chegou a levar na cara.
Será que a Folha de São Paulo algum dia vai falar de nós?
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